segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O primeiro dia do resto da minha vida

Sentada na sala do meu novo lar, assistindo o canal 56 (E Entertainment) e tomando uma Corona penso se este e o primeiro dia do resto da minha vida.

Concluo que nao, na verdade o primeiro dia foi ha 2 anos atras quando voltei a Los Angeles, depois de 18 anos. Foi ali que decidi o que realmente queria fazer: mudar para California.

Os queridos amigos sabem que o topico virou obsessao. Tudo que aconteceu depois dali foi para construir o que estou vivendo agora. Muitos desafios rolaram, a inseguranca se instalou, o medo de sair novamente da zona de conforto e me jogar em um mundo totalmente desconhecido tomou conta de mim. Foram minutos, horas, dias e meses fazendo o exercio de me perguntar se valeria a pena.

O destino ajudou bastante quando ano passado tive a chance de passar 3 meses aqui com a Fernanda Elisa. Conheci o Marcelo e a cidade. Experimentei o glamour de Hollywood e as dificuldades de estar a tantos quilometros de meu sempre amado Rio de Janeiro e das pessoas mais importantes da minha vida. Mas, ao mesmo tempo, tive a oportunidade de ver o que seria se esta fosse a minha escolha.

Voltei para o Brasil decidida e trabalhei muito emocionalmente para que o sonho acontecesse. Um sonho que descobri ser antigo, muito antigo. Lembrei que no auge dos 16 anos, na minha primeira visita a cidade, comprei uma placa que estampava Beverly Hills e que ficou na porta do meu quarto da Tijuca durante anos. Lembrei tambem que durante 3 anos, morei na Barra em um condominio chamado California e que meu predio se chamava Beverly Hills. Durante a minha analise sobre o passado cheguei a gargalhar quando lembrei que trocava figurinhas de Barrados no Baile (nada menos que BH 90210) no pilotis da Puc.

Tudo poderia ser apenas um retrato de um passado feliz, mas quando voltei aqui, percebi que no fundo, no fundo, tudo que sempre quis era experimentar a vida de verdade perto das montanhas de Hollywood.

Me assutava a ideia de deixar tudo que me cercava: minha familia incrivel, meus amados amigos, meus bares prediletos, a minha vida mais que sensacional na unica cidade do mundo considerada Maravilhosa. No auge dos muitos pensamentos, cheguei a querer ter motivos para fugir de alguma coisa, assim seria mais facil justificar a escolha. Mas nao adiantou. Eu nao tinha motivo triste concreto para deixar tudo que mais me dava prazer e comecar do zero, zero mesmo.

Confesso que foi muito dificil! Doloroso ate, so que o prazer nao vem facil, a gente tem que fazer os tais movimentos para chegar onde quer. Comprei a briga com o meu consciente (e inconsciente) e ca estou.

Interessante que de repente tudo comecou a dar certo e as coisas mais improvaveis comecaram a acontecer de fato. Os delirios se tornam verdade a cada dia, deixando claro que valeu a pena!

O mais bacana de toda a trajetoria foi ter recebido o apoio e a energia positiva de todos voces. Nossa, fiquei tao lisonjeada com a quantidade de manisfestacoes carinhosas que recebi, que escrevendo agora me emociono novamente. Vou me emocionar sempre, afinal sou um ser humano como qualquer outro, um conjunto de defeitos e qualidades e de repente todo mundo achando o maximo eu, logo eu, chutar o balde de uma vida inteira confortavel e ja bem realizada e recomecar a busca pela felicidade.

Percebi o que Anita Garibaldi um dia falou, quem nasceu em frente ao mar, sempre quer ver o que tem adiante. Devo ao Farol da Barra, na Bahia, esse meu desejo de pegar o barco e seguir alem do meu confortavel horizonte e devo a minha estrutura de vida no Brasil, a minha familia e a voces, a seguranca de ter um porto seguro para voltar sempre. Ta ai o que me motiva a seguir em frente sempre.

A vida nova me agrada, me fascina e me da prazer, justamente por eu ter voces para compartilhar todas as vitorias, dificuldades e desafios. Gente, sensacional! Esse e o melhor passeio que alguem poderia fazer na vida e eu tenho a oportunidade de aproveitar essa chance.

Me resta apenas agradecer, a Deus, a Sao Judas e a todos voces que me fazem uma pessoa tao feliz, tao completa, tao segura e que me ajudam sempre a ter coragem de enfrentar o novo.

Preciso dizer que se voces me acham uma pessoa determinada, eu nunca teria forcas sem a energia positiva que recebi de cada um.

Tenho a nitida sensacao que comeco agora o resto da minha vida, que aqui realizarei os meus sonhos mais loucos e que no meio disso tudo a gente sempre vai se encontrar numa madrugada no Jobi, numa feijoada no Alfa Barra, ou simplesmente numa tarde de por do sol no Arpoador, para dizer que sim, tudo vale a pena, quando falamos de sonhos realizados e de pessoas queridas.

Na real, na real, no mundo a maior motivacao e ter pessoas com as quais compartilhar cada pedacinho da sua vida e isso, eu tenho, e por isso, eu vejo o ceu azul da minha varanda e digo que esta valendo muito a pena escrever esta historia.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

AUTO RETRATO

Acho tão difícil falar de si próprio , mas recebi essa incumbência e começo por dizer que gosto de cumprir tarefas e chicá-las, uma a uma, da minha agenda. E se a missão teima em me vencer, sou mais teimosa ainda e não descanso facilmente. Então, sou teimosa. Anoto tudo em papel, se não esqueço. Já tive ótima memória, decorava rapidamente músicas, números de telefones, endereços, informações em geral. Hoje uso colas. Mas não cheiro. Cheiro perfumes, temperos, plantas e papéis velhos. Minha memória olfativa, essa sim, funciona muito bem. Gosto do cheiro do velho, pois não tenho alergias. Só a esmaltes. Adoro velhinhos e velhinhas. Gosto de novidades, mesmo se forem fúteis. Mas não tenho paciência nenhuma com gente fútil. Também não tenho paciência nenhuma com vítimas eternas do mundo. Adoro a Terra. Sinto que minhas raízes crescem em direção aos quatro pontos cardeais. Cada vez que visito um lugar fica uma mudinha minha ali. Sou filha de minha mãe Cleide Árvore e de meu pai Renato Vento. Minha casa poderia estar em qualquer lugar onde meus afetos pudessem ir sempre me visitar. Adoro aviões. Adoro gente. Amo a companhia de animais - aprendo muito com eles - fonte rica. Mas também adoro ficar sozinha. Não sei lidar com despedidas. Choro. Choro muito. Choro por tudo - porque estou triste ou feliz. Adoro dormir. Durmo em qualquer lugar ou posição. Durmo muito - mas não em viagens. Também vomito muito - enjôo de barco, avião, ônibus, carro, mergulhando, fumando ilícitos. Então, não fumo ilícitos e tomo Dramin B12. Aprecio comidas e gosto de provar sabores novos. Sou gulosa. Amo doces bem doces, mas gosto do chocolate meio amargo. Tenho muitos apegos. Desejo o desapego. O apego me aprisiona. Às vezes passo temporadas em minha casa no Mundo de Oz - isso irrita algumas pessoas, mas eu gosto muito de lá também... Não sou organizada na casa, sou no trabalho. Tiro os sapatos quando entro em casa. Gosto que todos também o façam, mas às vezes tenho vergonha de pedir. Tenho vários TOC´s. Nenhum medicável, todos administráveis. Gosto de rir sem limites, me apaixonar sem limites, andar sem limites, mas de criança com limites. Ainda não tenho filhos, mas ainda sou jovem, ou pelo menos me sinto, sinceramente, muito jovem. Já tenho o pai dos meus filhos. Tem dia que o amo. Tem dia que penso em jogá-lo pela janela. Aí vou pra Oz. Sou impulsiva, mas já fui mais. Cantar é minha terapia, minha fantasia e minha liberdade. Gostaria de ter sido a autora de várias letras. Barulho não me perturba, definitivamente. Se preciso de silêncio, faço o meu silêncio. Me concentro facilmente, tanto que é difícil eu fazer bem, mais de uma coisa ao mesmo tempo. Odeio cobranças. Tenho dificuldades com críticas. Mas posso ouvir e refletir sobre tudo se for dito de uma boa maneira. Pessoas mal educadas e grosseiras me incomodam muito. Jogar lixo no chão me torna grosseira. Maldades com animais me transformam. Animais me cativam e acalmam. Sou da Ciça e do Capitão.

Visões de Laura

Todos os dias Ana vai para sua aula de yoga e pilates, onde tenta manter o equilíbrio e de certa maneira sua forma.

Uma das características mais marcantes de Ana é a curiosidade, curiosa ao extremo não deixando passar nada sem desvendar.
Qualquer detalhe passa pelo filtro dela e com isso ela desenvolveu um hábito pouco cartesiano e quase nada saudável – ouvir as conversas das pessoas que estão ao seu redor, sem nenhum pudor, chegando a fazer as coisas mais bizarras para satisfazer seu pecado.

Desde que começou a freqüentar a academia, ela observou que dois homens, um com um pouco mais de 40 anos e o outro aparentemente entre 30 e 35 anos, chegavam por volta das dez horas da manhã, se sentavam no banco em frente ao salão principal e começavam a conversar. Ela ia para sua aula e uma hora mais tarde quando voltava os homens permaneciam do mesmo jeito, conversando como duas carolas que cochicham no banco da igreja antes do padre iniciar a missa.

Essa situação, é claro, atiçou a curiosidade de Ana, que mais que depressa iniciou um processo de investigação para saber: primeiro o que tanto conversavam aqueles dois, segundo: sobre o quê conversavam, e terceiro: que tipo de atividade eles realizavam ali.

Primeiro passo: questionou à recepcionista sobre a frequência dos dois e as aulas que eles participavam, e qual não foi a surpresa, pasmem, os dois não faziam atividade nenhuma, pagavam a academia e passavam cerca de uma hora e meia sentados conversando e depois desse tempo levantavam, sorriam para a recepcionista e saíam como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Ao ouvir isso, Ana ficou muito mais empenhada em descobrir o fim dessa história, sua curiosidade a essa altura estava no estágio máximo, quase empolada, e concluiu que precisava descobrir o assunto das conversas e o motivo de estarem ali. Várias alternativas passaram por sua cabeça, assim como, a maneira como ela descobriria tudo.

Como era habitual ela resolveu tentar escutar o papo, no que teve sorte, pois o banco onde as vítimas costumavam sentar era ao lado do bebedouro, assim começando um processo de hidratação intenso.

No primeiro momento ela percebeu que eles falavam de pessoas, coisas do tipo: fulano é muito mau caráter, beltrana não dá mole pra ninguém, o Zé Mané quase ferrou a Neide da contabilidade, e assim foi dia após dia até que Ana conseguiu compor vários personagens para aquela história sem pé nem cabeça.

Mas, um belo dia, ela ouviu alto e claro o nome: Demóstenes Alicanto de Oliveira Neto, isso mesmo, esse nome enorme e inconfundível, que não poderia existir de forma alguma dois iguais, era ele mesmo, o Dedé, seu melhor amigo, parceiro de todas as horas, aqueles dois estavam esculachando o pobre do Dedé, falando horrores, inclusive sobre uma história que ele teria sido visto aos beijos com outro homem numa casa noturna GLS da cidade.

Nesse ponto a curiosidade de Ana ultrapassou os limites do aceitável e ela partiu pra cima, precisava desvendar aquilo, custasse o que custasse, pois ninguém ia ficar falando do Dedé, mesmo que aos segredos, na presença dela. Foi então que colocou a recepcionista na jogada para levantar as fichas dos dois e descobriu o nome, telefone e o endereço do trabalho deles. Nesse ponto, quase matou a charada, os dois trabalhavam no mesmo lugar que o Dedé, e através do amigo, descobriu que na Net, existia um blog específico, voltado para o local de trabalho do Dedé, que expunha a vida de todas as pessoas, sem exceção, do ascensorista ao Vice Presidente, uma verdadeira rede de intrigas, que estava sendo investigada a fim de descobrirem a origem do instrumento que já tinha prejudicado tanta gente.

Ana não falou nada ao Dedé sobre os dois, mas começou a armazenar provas, para desmascarar aquela dupla implacável de fofoqueiros que expunham as pessoas por mero prazer. Filmou, fotografou, gravou algumas das conversas sem ser notada, pois assim como eles usavam a academia como disfarce, ela também o fez em nome bem.

Passado algum tempo, e com provas suficientes contra os dois, Ana chamou o Dedé e contou tudo, mostrando-lhe todas as provas. O amigo ficou surpreso, pois aqueles dois estavam acima de qualquer suspeita, nunca foram vistos juntos, trabalhavam em departamentos diferentes e eram muito bem conceituados perante o grupo, faziam aquilo por puro prazer.

Foi então que Dedé teve uma ideia, em menos de uma semana haveria uma festa na empresa para comemorar o aniversário de fundação e seria uma excelente oportunidade para desmascarar os dois.

Dedé contou tudo para o rapaz responsável pelo TI que prontamente resolveu ajudar, como haveria uma transmissão de DVD da empresa como fundo para as comemorações, iriam exibir também o material apresentado por Ana, no momento em que estivessem todos concentrados na comemoração, acabando assim, com a maldade daquele dois.

Ana, graças a sua curiosidade, foi a responsável pelo fim de uma situação de extremo mau gosto e por que não dizer, criminosa. Ela continuou suas aulas na academia e cada vez mais, muito atenta e curiosa.

Quanto aos dois fofoqueiros, esses além de estarem sendo processados de forma coletiva por calúnia e difamação, perderam o emprego, nunca mais voltaram à academia e acho que jamais ousarão comentar sobre a vida de qualquer pessoa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"Pois o homem raramente escapa ao seu destino"

Maria Helena e Oswaldo estavam as vésperas de comemorar 20 anos de casado. Maurício, o filho mais velho, tinha acabado de completar a maioridade e Natalia vivia o início da adolescência.Era o retrato da família feliz do comercial de Doriana. Sempre foram muito unidos e tinham uma convivência pacífica, carinhosa e amigável.

No verão de 2002, Maurício estreava o carro novo nas nights carioca,s quando por obra e graça do destino,maldito ou um benfeitor, encontra uma prima distante, que passava o férias na Cidade Maravilhosa. Não se viam desde crianças, mas Samantha, que sempre teve uma quedinha pelo primo mais velho, não hesitou em cumprimentá-lo.

O papo de amenidades durou até uma pergunta bombástica...

Samantha: Como está o namorado da sua mãe?

Maurício: Quem? Namorado de quem?

Samantha: O Carlos, namorado da sua mãe. Encontrei com eles semana passada, lá em Salvador. Manda um beijo para eles.

Maurício ficou atônito, mas disfarçou o susto inventou uma desculpa e foi correndo para casa. Não dormiu aquela noite. Quando os primeiros raios de sol despontaram, ele acordou a irmã e contou o acontecido.

Uma decisão deveria ser tomada.Aquela informação não poderia ser ignorada, afinal, não foi por acaso o encontro com a prima soteropolitana.

Na mesa do café da manhã, um filho confuso e ferido pergunta para a mãe quem era o seu namorado. Diante do olhar assustado de Oswaldo, Maria Helena chora envergonhada, contando a verdade.

Tinha conhecido Carlos em Salvador, quando passou uma temporada ajudando a melhor amiga a inaugurar seu novo negócio, uma delicatessen, em um dos shoppings mais chiques da capital baiana.

Seu coração ficou mexido e o romance engatou. A figura da mãe e esposa, naquele momento, ficou em segundo plano. Ali estava uma mulher pedindo desculpas por ter se apaixonado por outro alguém. Um ser humano, que como todos, está suscetível a ser trapaceado pelo seu coração.

Os dias que seguiram aquela refeição foram muito difíceis. Para todos.

Maria Helena rompeu imediatamente seu romance e tentou resgatar de todas as formas o seu casamento e o respeito de seus filhos.

O relacionamento durou em paz por mais 5 anos, até que Oswaldo pediu o divórcio. Foi amigável e até hoje eles continuam tendo uma relação cordial.

Seu filho passou por um processo delicado, afinal, receber do destino tamanha revelação quando se é muito jovem, não é simples . Mas aos poucos Maurício tem conseguido desmitificar a figura materna e compreender que como nada acontece sem querer, toda esta revolução, pode sim ter uma consequencia feliz.

Para Natalia, crescer tem lhe feito entender Maria Helena. Como mulher, percebe o quão estamos propensos a uma situação como esta, digamos, que contraria o que se espera de uma mãe de família da classe média brasileira. Afinal estamos suscetíveis as armadilhas do amor, da luxuria, dos sentimentos bons e dos mais tenebrosos pertinentes a alma humana.

Quem ainda busca o perdão de si mesma é Maria Helena. Depois de Carlos nunca mais foi tocada por outro homem. Na sobrevida de seu casamento, o sexo não teve mais espaço.

Sem depositar nenhuma expectativa no destino de seu coração, essa mulher vai aos poucos se dedicando a reconstruir seu amor próprio, abalado por um encontro improvável de seu filho, numa madrugada de verão, em uma boite no Rio de Janeiro.