Meu namorado tinha saído do armário e da cidade.
Logo ele, um cara tão legal resolveu chutar o balde do nada, assumir que era gay e destruir meus sonhos de Cinderela.
Tudo bem que a gente já tinha terminado fazia um tempo, mas eu ainda o amava.
Criada na Tijuca, pais tradicionais, aluna do Marista São José, tinha sido preparada para casar com um menino de família. Como de repente ele poderia mudar todo o cenário? E os nossos planos? Os amigos em comum? Será que eu era uma mulher tão sem sal a ponto de fazer meu namorado virar gay? Quanta prepotência....
Mas, na época, foram muitas as dúvidas, dores e lágrimas que encheram meus dias e noites daquele ano...até que, me sentindo incompetente de lidar com isso sozinha, pedi aos meus pais para fazer análise. Eles foram simpáticos a ideia, mas meu pai sugeriu que antes de procurar um terapeuta, eu poderia realizar um antigo sonho, algo que ele e a minha mãe nunca concordaram que eu fizesse na adolescência, mas que poderia abrir meus horizontes e confortar meu coração despedaçado.... fazer TEATRO! Já que, desde que me entendia por gente, sonhava em brilhar nos palcos e refletores.
Adiei o projeto terapia, peguei toda a minha amargura e me inscrevi no curso de iniciante, que acontecia todas as terças, na Casa de Cultura Laura Alvim.
E, foi no meio deste caos emocional, que esbarro com um aluno pedindo informações da Marilyn Monroe para uma cena que ia rolar na primeira aula. Era o Gus, um jovem vestibulando, recém chegado do sul de Minas Gerais, que detestava o Rio de Janeiro e para se distrair tinha se matriculado também no curso.
Não foi difícil fazer amigos naquele ambiente, mas dentro do grupo Gus e eu ficamos mais próximos e, logo de cara, começamos a viver historias, aventuras, armações. Protagonizamos cenas antológicas no banco de trás de uma limo em Manhattan, e na cabine do DJ no Mostarda da Lagoa. Compartilhamos confissões, sonhos, doenças de família, perda de parentes queridos, garrafas de Chandon, mesas do Barril, Braseiro, Bar d'Hotel. Dividimos quentinhas no Centro da cidade e jantares no Copacabana Palace. Andamos de trator em Santa Rita, tomamos cachaça, brigamos muitos, fizemos escandalos.Contamos moedas no Vidiga e gastamos o que não podíamos no Fashion Mall. Viajamos para os EUA, Búzios, Jataí e Salvador. Viramos madrugada tomando skol no quiosque da praia em dia de lei seca eleitoral. Enlouquecemos um bocado no Rio de Janeiro, com o saldo positivo dele ter se apaixonado pela Cidade Maravilhosa, considerado hoje uma alma carioca.
O Gus foi quem mais me ajudou a apagar as neuras, matar o preconceito tijucano que rondava minha mente, e superar com louvor a opção sexual do meu ex. Afinal, era a vida dele e como uma pessoa razoável, amiga e parceira, o mínimo que eu deveria fazer era entender e apoiar.
Infelizmente, não nasci mesmo para ser atriz, deixei o teatro 6 meses depois, e estava tão leve que acabei não fazendo a tal terapia planejada inicialmente. Até hoje não fiz. Acho super bacana, respeito totalmente quem faz, mas ainda não tive vontade.
Talvez porque já tenha feito indiretamente muitas sessões de análise com os amigos...o Gus por exemplo, me contou que era gay, assim que chegou da regressão, numa noite linda, regada de skol e verdades a beira da Lagoa Rodrigues de Freitas. Graças a Deus já num tempo que eu havia amadurecido o suficiente para torcer pelo seu sucesso amoroso, da mesma forma que torço pelo meu.
No post de estreia mencionei ter vivido 2 amores que me ajudaram a ser uma pessoa melhor. Um deles foi este meu namorado. Toda essa historia me ensinou muitas coisas e ainda me levou ao teatro, ao Gus, e a riscar pra sempre a palavra culpa do meu dicionário emocional.
Graças a ele e a sua experiência, me considero uma mulher mais interessante, sem tantos conceitos pre-estabelecidos.
E, não por acaso, hoje é aniversario do Gus, o 13 que participo. Como ainda não comprei um presente oficial, resolvi escrever um pouquinho sobre a nossa historia, como uma forma de agradecê-lo pela ajuda do passado, pela nossa amizade (adoravelmente humana, com seus altos e baixos) e para desejar que a gente continue junto, aprontando por ai e escrevendo mais e mais momentos inesquecíveis.
Sandrinha, consegui inserir este comentario...
ResponderExcluirbjao
É com lágrimas nos olhos e muita emoção que leio esse texto sobre você, suas descobertas, e, principalmente sobre meu irmão Gus.
ResponderExcluirnossa....qto tempo...qts lemrbanças eu revivi em apenas alguns minutos ..ao ler...voltei há anos atras...my god!!!
ResponderExcluiro + importante:conquistei algo mais precisoso: AMAIZADE!! love u!
Bela estóriade vida, amiga. Belíssima!
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