quarta-feira, 22 de abril de 2009

Visões de LAURA

Quando entrei na sala Tia Vera estava apavorada, ouvira da empregada da vizinha uma história que para mim não fazia nenhum sentido. A dita vizinha é chegada ao batuque do Candomblé, nada contra que fique bem claro, mas o fato merece destaque. Pois bem, a empregada Elza, uma senhora de sessenta anos, criada nos mais tradicionais preceitos do evangelho, era testemunha de Jeová e foi trabalhar justo numa casa, onde a patroa também praticava tudo aquilo que Elza acreditava ser coisa do “Demo”.

Um belo dia, já tendo passado por situações que a fez ler alguns versículos da Bíblia de trás pra frente e de frente pra trás, se deparou com a patroa colocando na entrada principal da casa uma carranca de aproximadamente uns 15 cm. A patroa recomendou a empregada que não mexesse pois o totem não poderia ser tocado por ninguém além dela, e assim a empregada o fez por um longo tempo.  Ate um dia, que na empolgação da limpeza, Elza varreu com vontade a estatueta que foi parar do outro lado do hall de entrada.

O desespero abateu-se sobre ela e sem saber o que fazer chamou Tia Vera para ajudar. Minha Tia, outra medrosa, se negou a tocar no objeto e disse que ele era responsabilidade de Elza.  Num rompante de muita coragem e chamando por Jesus, a empregada recolocou a feiúra de madeira no lugar.

A partir desse dia a vida de Elza nunca mais foi a mesma, tudo que dava errado culpava a carranca, e a neura foi evoluindo de tal maneira que ela começou a ouvir a coisa falar.

Segundo ela, a estatua lhe dizia coisas horríveis. Quando passava pela porta, jurava que “a cuja” gargalhava e praguejava. Ela chegou a afirmar para Tia Vera que a tal carranca mudava de lugar todos os dias só para lhe confundir.

A situação chegou a um limite que Elza não agüentou mais, contou para a patroa o que havia acontecido e pediu as contas. A patroa explicou-lhe que a estátua era apenas um símbolo de proteção e que o que ela ouvia era fruto de sua imaginação medrosa. Nada do que disse a patroa dissuadiu a empregada de ir embora.

Tia Elza até hoje passa batida pela porta da vizinha sem olhar para a estátua com medo que  a qualquer momento ela se mova ou gargalhe exibindo seus dentes talhados e pintados de branco.

O que mais me chama a atenção nessa situação é como o medo pode tornar real aquilo que vive somente no nosso subconsciente, assim como a empregada deu vida a carranca, quantos de nós não damos vida às carrancas que a vida nos impõe.

Um comentário:

  1. Claudinha sensacional, estou rindo até agora com essa história, fiquei imaginando a cara das duas senhoras falando sobre o assunto. kkkkkkkkk
    Gostei muito do texto, bem humorado e simples, mas com conteúdo. Parabéns ao Ângelo ou seja lá quem for.

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